Orientação aos Pais (Advice to Parents)

Recomendações aos pais:

O que fazer quando seu filho está abusando de drogas ou álcool.

(*Nota: Eu uso a palavra “vício” para me referir à dependência de drogas ou de álcool)

Susan Thesenga

Prólogo

Amor que Não se Mede (Love Unbroken) é a história do meu calvário de dez anos lidando com vício de minha filha Pam. Nesse período de abuso de drogas, Pamela e eu fomos levadas ao limite da sanidade, à possibilidade real de nossa própria morte, à destruição de nossas crenças e ao esfacelamento dos nossos corações. E, contudo…encarar essa devastação daquilo que supúnhamos que éramos nos trouxe uma cura surpreendente. Neste livro, relatamos o nosso caminho extraordinário de recuperação.

Espero compartilhar com outros pais cuidadosos o que aprendi, para que outros possam se beneficiar da minha experiência. Para entender esta jornada como mãe de uma viciada, convido você a ler o livro que escrevemos juntas.

Recomendações aos Pais

Passei por vários estágios durante a cura da doença do vício em nossa família. Ao perseguir a minha própria recuperação, pude tornar-me uma força positiva para minha filha Pamela quando ela conseguiu estar preparada para enfrentar o vício e buscar sua recuperação.

Esses estágios de crescimento não dependem da crença em nenhum caminho espiritual específico; eles são universais. Também não se desdobram em forma racional ou linear conforme apresentado aqui apenas para maior clareza.

Não importa o que você faça, ninguém pode garantir que seu filho alcançará a recuperação. Contudo, posso assegurar que caso siga algo dessas recomendações, sua vida mudará para melhor, e assim terá chances melhores de alcançar um impacto positivo na vida de seus amados que sofrem com o vício.

Os estágios de meu crescimento são:

1. Eu renunciei à atitude de negação

2. Eu falei com minha filha sobre seu abuso de drogas

3. Eu estudei tudo que pude sobre a doença do vício na família

4. Eu estudei as questões psicológicas e espirituais que estão por trás da dependência da minha filha

5. Eu me informei sobre drogas:

6. Eu analisei a minha codependência e fiz meu próprio trabalho interior:

7. Eu deixei de tomar como pessoal o comportamento da minha filha; desapeguei com amor:

8. Eu renunciei ao excesso de cuidados

9. Eu aprendi a cuidar de mim

10. Eu renunciei ao controle e entreguei-me ao Poder Superior

11. Eu mantive uma conexão amorosa com minha filha 

12. Eu estava lá quando ela ficou pronta para o tratamento

E em algum lugar em meio ao caminho percorrido: tornei-me a autoridade de mim mesma

Primeiramente, vou compartilhar a etapa final de meu aprendizado, porque é importante que você o conheça antes de ler as recomendações:

Tornei-me a autoridade de mim mesma:

Embora esta sugestão possa ser mais bem integrada após ter passado pelos estágios anteriores, ao lidar com o abuso e a dependência de drogas, eu a ofereço já no início, paraque você não deixe que meu conselho (ou de qualquer outra pessoa) substitua a inteligência inata do seu próprio amor. Consultei vários especialistas diferentes sobre narcodependência, mas no final tive que me tornar minha própria autoridade, e confiar em meu próprio coração e na minha mais profunda sabedoria.

Quando você tem um filho com problemas, vai receber dos outros todo tipo de conselho.  Alguns parecerão inúteis; outros poderão ajudar, mas serão difíceis de seguir. Alguns dos melhores conselhos desafiarão seus instintos parentais naturais, tais como parar de proteger seu filho de sua dor ou parar de evitar que ele viva as consequências desuas ações negativas. Será encorajado a parar de defendê-lo e de tomar excessivo cuidado dele. Você terá que desaprender algumas atitudes parentais naturais que são verdadeiramente inúteis ao lidar com filhos viciados.

Mas, no final das contas, você ainda é a pessoa que melhor conhece o seu filho e, portanto, quem melhor pode ajudá-lo.

Tudo isso pode ser difícil de acreditar, porque a doença familiar do vício irá corroer a sua autoestima e vai provocar momentos de culpa, medo, arrependimento e dúvida. Mais cedo ou mais tarde, você vai se culpar: “Se meu filho é viciado, que coisas terríveis devo ter feito como pai para merecer isso?” Tal pensamento não é verdadeiro: a doença de que seu filho sofre não foi causada pelo seu comportamento.

Se você submeter-se a esse pensamento inverídico e destrutivo, sofrerá da síndrome do “mau pai/mãe” (o que fiz por anos). Isso solapará sua autoestima e fará com que fique muito suscetível à autoridade dos “especialistas em viciados” e outros quer lhe dirão como proceder com seus filhos.

Ao invés disso,aprenda a respeitar a si mesmo. Encontre sua própria autoridade interna. Confie em sua própria sabedoria, mesmo quando estiver ouvindo os outros, e aprenda o que funciona e o que não funciona neste desafio ímpar à paternidade. Não subestime o papel positivo que você pode ter na recuperação de seu filho.

O amor incondicional dos pais é, certamente, a força de cura mais poderosa na vida de um viciado. Por isso, não tenha medo de confiar em seu próprio coração amoroso.

Aqui estão os estágios por que passei:

1. Eu renunciei à atitude de negação:

É crucial, mas muito difícil. A negação é uma das principais características da doença do vício, para ambos: os viciados e suas famílias. Sair da negação é o primeiro passo necessário tanto para a cura como para desenvolver seu potencial para ajudar o seu filho.

Naturalmente, os pais estão envolvidos emocionalmente com os filhos. Isto não é uma coisa ruim. Alguns dirão que você não consegue ser objetivo e, portanto, não deve tentar ajudar. Não fique envergonhado ou paralisado por causa dessa observação. Mais uma vez, acredito que a conexão amorosa com o seu filho é, provavelmente, sua mais importante ligação com a sanidade.

No entanto, temos que trabalhar duro para não deixar que nosso envolvimento emocional afete a percepção da realidade do que está acontecendo com nossas crianças. Muitas vezes, vemos tudo através de óculos cor-de-rosa: queremos acreditar naquilo que queremos acreditar. Queremos vê-lo como as crianças amáveis que já foram um dia, ou o adolescente/adulto que esperávamos e sonhávamos que iriam se tornar. Mas, se está abusando de drogas, então provavelmente as drogas sequestraram as crianças que amamos e as transformaram em alguém que mal reconhecemos. Temos que ver seu comportamento como é agora, e não como gostaríamos que fosse.

Se você não tiver certeza que seu filho está usando/abusando de drogas, procure os seguintes sinais no seu comportamento: mentir, esconder, minimizar ou justificar o uso de drogas; tentar manipulá-lo em troca de favores e dinheiro; querer que você o livre de confusões; desregrar-se com horários ou passar noites sem dormir; tornar a vida emocional uma montanha-russa com muitos dramas interpessoais; ser incapaz de conseguir ou manter um emprego; piorar o desempenho na escola; e, provavelmente, roubar você ou outras pessoas. Para ter certeza, confirme suas histórias na escola, no trabalho ou com os amigos.

Se o seu filho mora com você, recomendo fortemente que faça testes de drogas em casa regularmente (mas de forma imprevisível) como condição para continuar debaixo do seu teto. Ou, se ele está fora de casa, mas recebe seu apoio financeiro, exija os testes de drogas (como eu fiz por muitos anos) como condição para que continue recebendo esse apoio. Mantenha o controle do seu dinheiro para detectar imediatamente se ele estiver lhe roubando. Observe seus hábitos de sono para ver se alguma coisa está errada. Converse (mas também, verifique as histórias) com funcionários da escola, amigos e vizinhos que possam relatar algum problema. Não tome partido automaticamente de seu filho por acreditar na sua versão. Ao mesmo tempo, não o acuse ou tire conclusões negativas apressadas. Para ver a verdade, óculos escuros não são melhores do que os óculos cor-de-rosa.

Em vez disso, coloque os óculos com as lentes claras e transparentes de um detetive investigando os fatos. Temos que estar dispostos a nos desapegar do enredo que mantemos em nossas mentes sobre quem são nossos filhos; a deixar para trás as exigências de que sejam quem nós queremos que sejam ou quem pensávamos que deveriam ser; e a ver claramente o que realmente está acontecendo. Este é um ato de amor, não importa se as acusações de seu filho possam mostrar o contrário. Claro que você quer respeitar a sua privacidade tanto quanto possível, mas o abuso de drogas é uma doença grave com risco de vida e, se você quer realmente ajudar, tem que descobrir o que está acontecendo, mesmo que isso signifique vasculhar o quarto, conversar com as pessoas sem que ele saiba e exigir testes de drogas.

Não tente preservar você ou seu filho da verdade: esteja disposto a saber o que realmente está acontecendo. Lembre-se que você tem o direito de saber o que se passa na sua própria casa ou com o filho para quem você dá qualquer tipo de apoio financeiro. Tente permanecer objetivo, em vez de ceder à tentação de ficar histérico com cada novo fato descoberto. Respire fundo e repita muitas vezes, “as coisas são como são.”

2. Eu falei com minha filha sobre seu abuso de drogas:

Depois de saber a verdade, você pode ter um diálogo inteligente com o seu filho. Você pode querer a companhia de outra pessoa em que confia: outro responsável, irmão, um amigo confiável ou um especialista. Verifique se o seu filho está interessado em parar ou não.  Saiba exatamente que tipo de droga está usando e com que finalidade (ver seção posterior sobre sua “educação sobre drogas”).

Essa conversa só será útil se você permanecer calmo e objetivo (lembre-se de colocar os óculos com as lentes transparentes de um cientista pesquisando a verdade objetivamente). Se você ceder a acusações infundadas, histeria, culpa, punição, coerção ou moralismo, estará apenas aumentando o drama. Saiba esperar por outras oportunidades para conversar. Você deve procurar, tanto quanto possível, que seu filho o veja como um aliado, e não um inimigo. Isso pode não ser possível, dependendo do estado mental do viciado e de sua capacidade de ser autorreponsável, mas vale esforçar-se por isso.

Quando conversar sobre abuso com drogas, ele pode ou não contar a verdade. Pode negar, minimizar ou justificar seu comportamento. Não significa que seja mentiroso ou moralmente imperfeito. Seu vício exige isso porque as drogas se tornaram a coisa mais importante em sua vida, ganhando prioridade sobre todo o resto. Faz o que é possível para proteger seu vício e geralmente sofre uma terrível culpa por estar mentindo, mas não consegue parar de enganar porque isso é da natureza da sua doença.

Você deve aprender a confiar em sua autoridade interna. O que suas entranhas lhe dizem está realmente acontecendo aqui? Você pode confiar em sua intuição sem exigir que seu filho concorde com você? Pode manter seu amor por ele mesmo quando está dominado por uma doença que o faz mentir, roubar e manipular? Pode considerar estabelecer limites, fronteiras e mostrar as consequências sem precisar punir?

Converse com seu filho sobre as opções. Lembre-se que você é o responsável pela sua casa e seu dinheiro. Você não tem que chutar o seu filho para fora de casa porque descobriu que está usando drogas. Mas também não tem que continuar provendo abrigo (se ele já é maior de idade) se ele abusa do privilégio de morar com você. Há muitas opções possíveis sobre o que fazer a seguir. Mas primeiro você tem que saber exatamente com o que está lidando por meio da análise da situação do estado mental do viciado, incluindo se ele precisa ou quer mesmo ajuda.

Se o seu filho é menor de idade, recomendo que use o seu direito legal de tomar as decisões por ele. Obtenha ajuda profissional para a família a fim de definir e manter limites em casa, como a fixação de toques de recolher, a realização de testes de drogas e a exigência de sua participação em reuniões dos Doze Passos no Narcóticos Anônimos e/ou Alcoólicos Anônimos. Se estiver fora de controle ao ponto de você não conseguir mantê-lo em casa, procure instituições terapêuticas onde possa recorrer à internação. Se isso for inviável financeiramente, busque todo o apoio que puder encontrar na sua comunidade.

Se seu filho for maior de idade, você precisará tentar ajudá-lo a aceitar receber tratamento, mas lembre-se de que você ainda tem o controle de sua própria casa e dinheiro; não é sua responsabilidade ter que cuidar dele. Se ele tiver sérios problemas mentais e emocionais, verifique se está aberto a receber ajuda com essas questões. (Um bom terapeuta reconhecerá que um viciado não pode prosseguir com a terapia se não procurar ficar limpo). Se o seu filho for um adulto no uso de suas faculdades mentais e não tiver interesse em obter ajuda para sua dependência, você precisa aprender a se afastar e deixar a doença seguir seu curso (veja os passos seguintes).

3. Eu estudei tudo que pude sobre a doença do vício na família:

Se o seu filho tivesse câncer, você pesquisaria tudo sobre sua doença e em como tratá-la. Faça o mesmo com a doença do vício em drogas. Você pode consultar o médico da família, mas lembre-se que eles nem sempre são bem treinados para lidar com o vício; aqueles que não compreendem a natureza da doença podem fazer mais mal do que bem.

Os melhores recursos são as publicações dos Alcoólicos Anônimos (AA), Narcóticos Anônimos (NA) e Al-Anon (para familiares e amigos de toxicodependentes e alcoólicos). Leia o livro “Alcoólicos Anônimos”. Vá a uma reunião aberta de AA ou NA (abertas para outras pessoas que não os próprios dependentes) e faça perguntas às pessoas que estãoem recuperação. Elas ficarão felizes em ajudar alguém a ter clareza sobre a natureza da doença e de compartilhar o que funcionou no processo de recuperação. Um momento importante na minha própria recuperação foi uma conversa que tive com um ex-dependente de heroína que disse que a única coisa que conseguiu tocá-lo emocionalmente foi ter sido expulso de casa por sua mãe.

Uma das coisas importantes que você vai aprender é que as recaídas são parte da recuperação, pois a maioria dos dependentes tem muitas recaídas, antes de finalmente conseguir se firmar no caminho de ser tornar limpo e sóbrio. Minha filha teve três recaídas graves, porém breves, até finalmente conseguiu encontrar o caminho da sobriedade. É claro que cada uma delas foi devastadora, mas, com o tempo, aprendi a não ficar chocada com a situação.

Participar das reuniões do Al-Anon ou Amor Exigente é essencial. Essa comunhão de amigos e familiares de alcoólatras e dependentes é crucial para aqueles que lutam com o abuso de drogas na família. Busque o apoio de colegas que também sofrem, geralmente pais ou cônjuges que viveram o que você está vivendo. Além disso, você vai descobrir que a dependência é uma doença familiar e que toda a família é afetada por ela. E descobrirá que você não causou, não pode controlar, e não pode curar a doença de seu filho, mas pode contribuir para sua recuperação permitindo a manifestação de seu desenvolvimento.

Se quiser ajudar o viciado, você deve primeiramente manter-se são. Lembra-se que nas instruções dos comissários no avião, dizem para colocar a máscara de oxigênio primeiro em você antes de tentar colocar na criança? Se o seu filho é um dependente ativo, você realmente precisa participar dessas reuniões para “poder colocar sua própria máscara de oxigênio” antes de poder ajudar quem quer que seja.

Você aprenderá muito sobre o que pode e não pode fazer para ajudar o seu filho e o que pode estar fazendo para, indiretamente, contribuir para a continuidade do abuso de drogas. Mas lembre-se sempre de que você é a autoridade final, ninguém mais pode saber melhor o que é certo para você ou para o seu filho.

Você descubrirá como a o vício em drogas é devastador. As drogas sequestraram a pessoa que tanto ama. Lá no fundo, essa criança adorável ou o adolescente promissor ainda estão lá. Mas as drogas criaram uma “persona” que é programada para uma única coisa: continuar a usar drogas. É a velha história do médico (Dr. Jekyll) e do monstro que ele criou (Sr. Hyde). Assim como você não confiaria na riqueza e nos bons modos do Sr. Hyde, não deve confiar na aparência exterior da persona de um viciado ativo.

Você compreenderá que o vício de seu filho provoca um efeito em toda a sua família. Seja tolerante consigo mesmo se perder o controle ou se iludir – aconteceu comigo muitas vezes. Uma característica da doença do vício na família é que todos (e não apenas o viciado) vão ficando um pouco loucos com a confusão, a incerteza e a negação. Senti vergonha desnecessária e me autocriticava toda vez que descobria ter acreditado nas mentiras de minha filha, cada vez que ela tinha uma recaída sem que houvesse percebido antecipadamente. É claro que nós queremos acreditar no melhor, e, assim, ficamos chocados com o comportamento desvairado da pessoa que amamos. Então, seja tolerante consigo mesmo.

4. Eu estudei as questões psicológicas e espirituais que estão por trás da dependência da minha filha:

A maioria dos viciados em drogas enfrentam problemas psicológicos, geralmente originados de traumas ou abuso sexual na infância. Diagnósticos frequentes para viciados incluem: transtorno dissociativo, transtorno emocional afetivo, transtorno de personalidade borderline, transtorno bipolar, dentre outros. Muitos viciados são extraordinariamente sensíveis em seus sentimentos e propensos a reações emocionais intensas. Seus centros emocionais de autorregulação estão seriamente fora de sintonia.

Muitos podem se beneficiar de medicação psiquiátrica ou de tranquilizantes. Infelizmente, alguns centros terapêuticos não irão prescrever a medicação até que a pessoa esteja limpa e sóbria por seis meses. Se o seu filho estiver usando drogas ou álcool como uma forma de automedicação (para anestesiar sentimentos intoleráveis ou intensas oscilações de humor) não será capaz de ficar limpo e sóbrio sem a ajuda de medicação psiquiátrica. Somente quando um centro terapêutico se dispôs a prescrever a medicação necessária à minha filha Pamela, no início de seu esforço para ficar limpa, é que ela conseguiu se firmar suficientemente para construir uma base sólida de sobriedade.

Nem todo mundo precisa de medicação e alguns vão abusar dela, mas você precisa descobrir o que funciona para o seu filho. Há também as dietas de vitaminas (em vez de medicamentos psiquiátricos) que podem restaurar os desequilíbrios neuroquímicos do cérebro de dependentes que sofrem. Pesquise!

Espiritualmente, a maioria dos dependentes estáem busca de algo maior do que eles mesmos. Drogas, inicialmente, prometem o vislumbre de uma realidade maior, bem como o alívio para a dor emocional. As drogas tornam-se então seu “Poder Superior”. Somente quando os viciados percebem que estão buscando um falso deus, que os escravizou com consequências desastrosas, é que podem aceitar ajuda para ficarem limpos. A única coisa que pode competir com a droga é o contato direto com o verdadeiro Poder Superior. Leve as aspirações espirituais do dependente a sério. Se puder, ajude-o a encontrar caminhos mais positivos para vivenciar a espiritualidade.

5. Eu me informei sobre drogas:

Vivemos em uma cultura que condena o uso de drogas ilegais, mas que aceita as prateleiras das farmácias cheias de produtos químicos que alteram a mente regularmente prescritos pelos médicos; além de comerciais de TV que nos empurram medicamentos a índices alarmantes. E, é claro, álcool é incansavelmente promovido em todas as mídias.

O que é e o que não é ilegal é muito arbitrário e relativo, como foi demonstrado pelo fracasso da legislação de proibição do álcool nos EUA. Em alguns lugares, o movimento para legalizar a maconha também ilustra que algumas drogas específicas podem entrar e sair de moda e, portanto, podem ter ou perder o status da legalidade. Tanto a maconha como o álcool podem viciar, embora também tenham potenciais medicinais benéficos. A maconha parece oferecer menos riscos em longo prazo para a saúde do que o álcool, e a sua utilização não parece estar associado à violência da maneira que o álcool está. Por que, então, a utilização do álcool é legal e a da maconha não é? As respostas a esta pergunta são baseadas em interesses políticos e sociais, e não em uma avaliação do perigo real para os usuários.

No entanto, o fato é que a maconha é ilegal na maioria dos estados norte-americanos, e este fato tem grandes consequências para seus usuários. Uma vez que um jovem passa a praticar uma “atividade fora da lei”, fica mais vulnerável a outras práticasilegais, como, por exemplo, o uso de drogas mais pesadas.

Contudo, se você aderir à histeria cultural sobre as drogas ilícitas, o tipo de neurose que classifica a maconha como uma substância perigosa e sem nenhum valor medicinal, seu filho não lhe levará a sério. Ele sabe que isso não é verdade. Adolescentes do ensino médio sabem mais sobre drogas do que a maioria dos congressistas norte-americanos. Então, é melhor você se atualizar e se informar sobre o que o seu filho já sabe. Comece sua pesquisa lendo o livro “From Chocolate to Morphine” (Do Chocolate à Morfina), do Dr. Andrew Weil.

Se você ler o livro anterior do Dr. Weil, “Natural Mind” (A Mente Natural), começará a entender que nunca deixaremos completamente de utilizar substâncias que alteram a mente, porque o desejo por estados alterados de consciência parece estar entranhado no ser humano. Religiões cristãs utilizam o sacramento do vinho para auxiliar o fiel a acessar a presença do Cristo. A não ser que alguém acesse a realidade espiritual por meio de outros métodos, essa atração universal por drogas que alterem a mente permanecerá.

Nem sempre o abuso de drogas provém de drogas ilegais nas ruas. O abuso com remédios prescritos tem aumentado entre os jovens. Se o seu filho tem necessidade real por analgésicos, verifique a sua utilização para descobrir se há potencial para abuso. Jovens também usam inaladores e uma variedade de estimulantes legalizados. Pesquise quais drogas legalizadas, porém perigosas, podem estar sendo abusadas pelos jovens em sua localidade.

É importante saber distinguir a diferença entre as drogas que são utilizadas para recreação e fuga dos desafios da realidade das drogas psicoativas utilizadas para investigação séria de cura espiritual e do despertar da consciência.

Em nossa época, todos os tipos de medicina psicoativa, vindas de qualquer parte do mundo estão disponíveis de alguma maneira nos EUA. Portanto, existem jovens utilizando substâncias psicoativas que têm sido utilizadas como parte das cerimônias tradicionais e sacramentos religiosos por culturas nativas em várias partes do mundo, há milhares de anos. Existem três “medicamentos sagrados” que têm sido usados como medicina e sacramento religioso por culturas nativas. Em princípio, não devem ser usadas para fins recreativos e não causam dependência: Ayahuasca (um chá sul-americano feito a partir de duas plantas da selva usadas por pessoas nativas da bacia do Amazonas); Peyote (um cacto do deserto usado pela Igreja Nativa Americana e tribos indígenas no México); 3) e a Ibogá ou Ibogaína, que é derivada de uma raiz psicoativa utilizada pelos povos africanos Bwiti, do Gabão, em seus rituais de iniciação. Pelo que eu entendo de psilocybin mushrooms  (os “cogumelos mágicos” dos xamãs mexicanos e de outras regiões), eles são outro tipo de planta sagrada que pode ser utilizada para um propósito sério se consumido em uma cerimônia xamânica, mas também, podem ser mal utilizados se forem usados casualmente para diversão.

Algumas químicas psicodélicas modernas também podem, no ambiente adequado e com a intenção correta, ter usos terapêuticos e espirituais, como o LSD, DMT, e MDMA (Ecstasy). Estes mesmos medicamentos, no entanto, podem ser utilizados como drogas recreativas e seu uso casual pode levar ao uso de drogas pesadas.

Infelizmente, o sistema legal norte-americano não prevê qualquer atenuante na classificação de todas estas substâncias (naturais e/ou químicas). Como a maconha, todas são consideradas perigosas e desprovidas de valor medicinal, assim como a cocaína, a heroína, a anfetamina e a metanfetamina. Pela primeira vez, desde a década de 1960, pesquisas sérias vêm sendo realizadas sobre o uso de substâncias psicoativas naturais utilizadas pelas culturas nativas e químicas psicodélicas modernas. (Ver www.maps.org  – em inglês). Outro recurso útil para pesquisa sobre quase tudo o que você queira saber sobre as drogas é www.erowid.org.

Descubra qual é, exatamente, a natureza do envolvimento de seu filho com as drogas. Não é provável, mas possível, que tenha um grande interesse na utilização de “plantas sagradas” que fazem uma conexão com as antigas técnicas xamânicas para acessar a realidade espiritual. Cerimônias nativas de iniciação à adolescência geralmente envolvem o uso de substâncias expansoras da consciência. Portanto, há séculos, jovens tribais utilizam substâncias com a intenção de testar sua coragem e descobrir mais sobre si. Isso precisa ser tratado de uma forma diferente dos casos em que se usam drogas nas ruas com o objetivo diversão ou para fugir do desafios da vida, ou, ainda, para automedicação de um distúrbio psicológico grave não detectado.

Mais uma vez: se possível, descubra o que ele está usando e com qual finalidade.

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Falando abertamente, preciso deixar claro o que qualquer um que já tenha lido nosso livro “Amor que não se mede” (Love Unbroken) já sabe. Minha filha, Pamela, recebeu grande ajuda por meio do uso da Ayahuasca no contexto de uma linha religiosa legalizada no Brasil. O governo brasileiro considera a utilização da Ayahuasca como um sacramento religioso. Ela também foi ajudada com Ibogaína, dentro de um projeto de pesquisa dos EUA, patrocinado pelo governo. A Ibogaína tem a qualidade notável de cortar a ansiedade causada pela droga, durante um período de tempo que é o suficiente para que o dependente possa começar um tratamento de reabilitação.

Nós consideramos estes dois medicamentos naturais como parte da solução, e não como parte do problema da dependência da nossa filha.

Nosso livro ilustra os efeitos curativos dessas substâncias e mostra como elas foram cruciais para a nossa cura. Mas sua utilização certamente não foi suficiente para nossa recuperação. Elas não curaram sua doença do vício. Pamela e eu também precisamos do apoio dos caminhos mais convencionais de recuperação, incluindo “Os Doze Passos” do NA e do AA e terapia psicológica.

A utilização de Ayahuasca, por mim e por Pam, e o uso da Ibogaína, por ela, colocam a história de nossa recuperação fora do roteiro comum do tratamento da dependência. A visão convencional é que os viciados devem estar completamente abstinentes de todas as substâncias psicoativas, de forma a ficarem limpos. A abstinência é o caminho mais aceito para a recuperação dos viciados, e o único sancionado pelos Narcóticos Anônimos e pela maioria dos centros de tratamento. E é também o único caminho disponível para se tratar nos EUA.

No entanto, o tratamento convencional por si só não funcionou para nossa filha. Não estou defendendo aqui o uso dessas substâncias (trabalhar efetivamente com “plantas sagradas” requer um contexto seguro e orientação especializada, o que não é facilmente encontrado em todos os países), mas realmente acredito que é importante que os pais saibam da existência dessa possibilidade.

Você não precisa concordar comigo sobre o potencial benéfico de algumas substâncias psicoativas. Mas é necessário que aprenda a distinguir entre os diferentes tipos de drogas que alteram a mente. Algumas são legais, outras não. Algumas, em qualquer dessas categorias, são potencialmente úteis, algumas são decididamente prejudiciais, dependendo do contexto e da intenção do usuário. Algumas delas já estão sendo pesquisadas para possíveis usos benéficos, algumas são protegidas por lei como sacramento quando usadas por religiões reconhecidas. Seu aprendizado sobre todas essas especificidades pode ajudá-lo a ter uma conversa honesta e inteligente sobre drogas com seu filho.

Você também não precisa estar de acordo com o que estou escrevendo aqui sobre a utilização de psicoativos com fins medicinais para aceitar os próximos passos que estou recomendando.

6. Eu analisei a minha codependência e fiz meu próprio trabalho interior:

O vício é uma doença de toda a família e, geralmente, pelo menos um dos pais tem algum nível de codependência com o viciado. Isso significa que você está profundamente afetado pelo viciado e determinado a salvá-lo de sua doença. Existem bons livros sobre codependência que o Al-Anon pode oferecer.

Comecei a olhar para a contribuição que estava dando para a doença da minha filha ao participar das reuniões do Al-Anon. Recomendo que você trabalhe individualmente com um coordenador do Al-Anon (trabalho individual com um membro experiente do grupo) e, se você tem acompanhamento  com um terapeuta, tenha certeza de que é alguém que conhece a doença do vício. Um terapeuta que não compreende  a dependência pode fazer mais mal do que bem.

Descubra alguma prática de meditação com a qual tem afinidade, onde possa aprender a observar calmamente o conteúdo de sua própria mente e dos seus sentimentos.

À medida que você aprende a observar cuidadosamente os seus processos mentais, pergunte-se: “O que estou dizendo a mim mesmo sobre o viciado? Estou supondo que ele não pode ajudar a si mesmo e precisa de mim para cuidar dele? Estou formulando desculpas para ele?”

A maioria dos viciados tem problemas psicológicos além da dependência em si. Podem ter dificuldades de aprendizagem ou atrasos de desenvolvimento. É importante ser realista sobre o nível de desafio apropriado para o seu filho, mas certifique-se de que ele faça o que estiver ao alcance para assumir a responsabilidade por suas próprias decisões e por sua própria recuperação.

Conforme você for observando a sua mente e sentimentos, pergunte também: “O que estou dizendo sobre mim a mim mesmo?” Se culpa e arrependimento dominarem sua vida mental e emocional, aprenda a se perdoar. Tudo o que você fez no passado, faz parte do passado. Deixe tudo lá. O que quer que tenha feito e que considere como um erro é digno de perdão. Lembre-se de que você não causou a doença dessa pessoa amada.

Observe o seu pensamento obsessivo sobre o viciado. Você está viciado em pensar que precisa salvá-lo? Está viciado no papel de herói? Secretamente, acredita que a sua preocupação é necessária para a sobrevivência do viciado? Lembre-se de que a preocupação não serve para nada, só o torna mais tenso e menos propenso a responder ao próximo desafio real com serenidade. Mas… é muito difícil se desapegar da preocupação. Perdoe o preocupado!.

Lembre-se: você não está sozinho nessa batalha. Num belo dia de primavera, fiquei tão encantada ao observar o carvalho que tocava a janela do meu quarto com seus galhos delicados como mãos finas que, durante meia hora, não pensei em minha filha um minuto sequer. Levei um choque ao perceber que não tinha me preocupado com ela e, então, voltei a ficar apreensiva acreditando que se não me preocupasse o suficiente, ela não estaria a salvo! Compreender essa armadilha da mente foi uma grande revelação na minha vida!

Lembre-se que sua conclusão mental de que o que está acontecendo com o seu filho é uma tragédia terrível pode não estar correta. Muitos viciados, em final de recuperação, são gratos à doença que os obrigou a se abrirem para uma nova vida com base na entrega a um Poder Superior. Viciados são, frequentemente, muito corajosos em explorar a consciência além dos limites comuns. Tal exploração iria assustar o resto de nós. Tente considerar o viciado como um aventureiro em busca de sua própria identidade, em busca de um Poder Superior. Ninguém nunca poderá dizer qual é o papel que o vício pode estar tendo no projeto maior de uma vida. Libertar-se do que presumimos que sabemos abre um espaço para a Presença, em vez de deixá-la presa a pequenos pensamentos cheios de preocupações. 

7. Eu deixei de tomar como pessoal o comportamento da minha filha; desapeguei com amor:

O dependente está nas garras de uma compulsão poderosa para usar drogas. Ele não faz o que faz para machucar você. O vício tem vida própria, e, num certo nível, o viciado está possuído pela doença. Seu comportamento negativo não é dirigido a você. Você não é o alvo. Quando seu filho lhe culpa ou é desafiador, é simplesmente a doença falando.

Aprenda a distinguir entre a voz da “persona viciada” e a voz real do seu filho, aquele de quem você se lembra de antes do vício entrado em sua vida. Quando o vício falar, não leve nada para o lado pessoal. O vício não compreende a razão ou o amor. Ele quer apenas uma coisa: mais drogas, mais entorpecentes, mais fuga, menos realidade, menos responsabilidade e, finalmente, a destruição e a morte da alma e do corpo do seu filho.

É um bom exercício discernir quando é o viciado quem está falando e quando é o eu real do seu filho quem fala. E, provavelmente, você vai cometer os mesmos erros que eu cometi: algumas vezes, acreditava em suas mentiras e, em outras, não acreditava na verdade que ela estava lutando para me dizer. Tudo isso proporcionou outra chance de aprender a me perdoar!

8. Eu renunciei ao excesso de cuidados:

Se você se descobre fazendo por seu filho o que ele poderia estar fazendo por si mesmo, encontre uma forma de libertar-se dessa atitude. Você precisa aprender sobre o “amor exigente”. Às vezes, este é o caminho a percorrer. É muito difícil para os pais renunciar ao papel de cuidadores. Afinal de contas, é o papel dos pais cuidar dos filhos, apoiá-los e protegê-los. Assim, quando temos filhos com a doença do vício, temos que desaprender alguns dos instintos mais básicos, como o de cuidadores, para podermos lidar com essa ardilosa e poderosa doença.

Uma boa maneira de pensar sobre a renúncia ao papel de cuidador é lembrar-se de permanecer fiel e cuidadoso com a pessoa real dentro do seu filho, mesmo que você o confronte, estabeleça limites, não o resgate, e pare de cuidar da persona viciada que engoliu o seu filho (lembre-se do complexo do Sr. Hyde, que já citei anteriormente). Cuidar da pessoa real dentro do viciado significa oferecer amor, apoio e fé em sua capacidade de ficar limpo, e se recusar a ficar próximo quando está na prática ativa do vício, de modo a não apoiar o seu comportamento.

Você tomará as suas próprias decisões com relação ao viciado com quem convive. Mas considere as decisões que nós tomamos:

  • Depois que Pam completou 18 anos, permanecia no vício ativo e não estava pronta para parar. Decidimos que ela não poderia viver em nossa casa e que também não lhe daríamos dinheiro ou apoio financeiro. Acreditamos que dar dinheiro a um dependente que ainda está usando drogas e pedir-lhe para usá-lo apenas para fins positivos – como pagar o aluguel e comprar alimentos – é como colocar doce nas mãos de uma criança de dois anos de idade e dizer a ela para comer espinafre em vez de bombons. Ela não pode resistir a doces, assim como um viciado não pode resistir à compra de drogas tendo dinheiro nas mãos. Não podemos esperar que o viciado resista à gratificação imediata das drogas, se nós mesmos somos indulgentes dando-lhes o que querem e não o que é melhor para eles (e para nós, em longo prazo).
  • Nós saímos do caminho e deixamos que a doença do vício seguisse o seu curso. Quando o dependente tem que experimentar todo o peso das consequências do seu comportamento – notas ruins na escola, descrédito, relacionamentos perdidos, perda de empregos, às vezes, até mesmo a prisão ou a falta de moradia – têm melhores chances de acordar para a realidade de sua doença. Se nós o “salvamos” das consequências do uso de drogas, então nós também o “salvamos” da possibilidade de aprender com o seu comportamento.
  • Acreditamos que a dor pelo uso de drogas teve que se tornar pior do que a dor que ela teria que enfrentar se parasse de usá-las. É muito doloroso ficar limpo e sóbrio. Há a dor da culpa real a ser enfrentada, mas também, a dor do sofrimento emocional que a levou a buscar as drogas. É doloroso ficar limpo e ver o estrago que você fez para si e para seus entes queridos. A fim de estar disposta a suportar esta dor, Pam teve que chegar ao ponto onde a dor de usar droga era pior do que a dor de não usá-la. Isso permite que ela fique disposta a fazer TUDO para ficar limpa quando “chegar ao fundo do poço”. Claro que Pamela poderia ter morrido de qualquer maneira antes de chegar ao fundo, mas, pelo menos, teve a chance de transformar sua vida porque nós não amortecemos sua realidade dolorosa de viciada ativa.
  • Por mais chocante que possa parecer, nós não intercedemos quando ela foi viver nas ruas. No nosso caso, não tivemos escolha porque ela foi para lá por conta própria. Mas, enquanto estava nas ruas, não enviamos dinheiro para comida ou para ajudá-la a encontrar um lugar para ficar. Nós não a retiramos da prisão e não pagamos as despesas com médicos.
  • Por outro lado, mantivemos o canal de contato em aberto (aceitávamos chamadas a cobrar, por exemplo). A cada vez que nos ligava, lhe assegurávamos o quanto a amávamos e que sempre a amaríamos. Nós pesquisamos várias opções de tratamento e lhe apresentamos. E deixávamos claro nossa disposição de pagar o tratamento e acompanhá-la na internação. Durante esse período, mantive uma lista do que “fazer” e do que “não fazer” ao lado do telefone para me apoiar e não cair na tentação de ser permissiva.

NÃO

Entre em pânico

Pressione

Faça sermão ou discurso

Aceite os abusos

Diga a ela o que fazer

Tente controlar

SIM

Fique calma não importa que aconteceu

Deixe que ela saiba que a ajuda está disponível

Respeite suas escolhas

Deixe ela conhecer os limites

Ouça que está fazendo  por si mesma

Entregue-se ao que é

Também mantive ao lado do telefone uma caricatura da Revista New Yorker apresentando uma mãe correndo para o quarto do seu filho adolescente e magrelo que queria levantar pesos. Ela exclamava: “Deixe-me ajudá-lo”. Sim, sou eu. O desenho expunha minha tendência exagerada de ajudar e me permitiu recuar um pouco.

9. Eu aprendi a cuidar de mim:

Lembre-se de cuidar de si mesmo. Cultive amigos. Dê uma longa caminhada. Vá ver um bom filme. Faça suas práticas espirituais. Caminhadas diárias, orações e meditação diária me mantiveram sã durante os vários períodos particularmente estressantes durante o vício ativo de Pam.

Se você está no inicio de um relacionamento, preste atenção ao seu parceiro. Uma criança dependente pode arruinar um casamento, já que um dos parceiros tende a ser a “manteiga derretida” (no nosso caso, era eu), e o outro tende a ser o “durão” (meu marido). Nós discutíamos sobre a melhor maneira de educar a Pamela, com meu marido criticando meu estilo, que julgava permissivo, e julgando seu comportamento como pouco amoroso. Como pais assumem papéis opostos, vocês podem se tornar distantes. Tire um tempo para desfrutar da companhia um do outro. Lembre-se de seu amor. Respeite seus estilos divergentes de exercer a maternidade/paternidade. Recebam aconselhamento de casais, se precisarem. Participem juntos das reuniões de grupos como o Amor Exigente. Divirtam-se juntos.

10. Eu renunciei ao controle e entreguei-me ao Poder Superior:

Você possivelmente não conseguirá fazer esta caminhada em busca da cura com o seu filho a menos que cultive uma abordagem espiritual e encontre conforto em render-se a um Poder Superior. A forma de fazer isso é estritamente de sua escolha: você pode encontrar uma conexão espiritual por meio de uma prática da sua própria fé religiosa, ou através do trabalho dos “Doze Passos”, ou de qualquer outro caminho e prática espiritual. Não importa como o faça, recomendo seriamente que dê prioridade à sua vida espiritual.

E se ainda não possui uma conexão com um Poder Superior, agora você tem em sua vida circunstâncias perfeitas que, mais cedo ou mais tarde, partirão seu coração e o colocarão de joelhos em oração. Então, deixe que seu coração se parta e se abra por intermédio dessa doença; isso o levará a uma compreensão mais profunda de Deus.

E quando digo “Deus”, quero dizer a energia confiável e essencial da vida que não é possível nomear; a presença inteligente e amorosa que pode ser encontrada em nosso ser mais profundo e que podemos vir a conhecer como o único poder verdadeiramente por trás de todo esse drama humano. E podemos aprender a entregar nossa pequena vontade (nossa sensação ilusória de controle) para esse poder maior.

Precisamos especificamente aprender a confiar que esse Poder Superior está operando na vida do viciado que amamos. Algo está no comando de sua vida, e não somos nós. Podemos amá-lo, mas não estamos no comando, e, quanto mais cedo aprendermos isso, mais rápido sairemos da insanidade.

Se você for como eu, as três primeiras etapas dos “Doze Passos” deverão ser revisitadas constantemente:

Passo 1: Admitirmos que éramos impotentes perante a doença de que sofre nosso filho

Passo 2: Acreditarmos em um poder maior do que nós mesmos que pode devolver-nos a sanidade

Passo 3: Decidirmos entregar nossas vidas e nossa vontade para o Poder Superior

Às vezes, precisava repetir esses três passos várias vezes como um mantra diário. A Oração da Serenidade é outro bom mantra diário: Deus, concedei-me a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, a coragem para modificar aquelas que podemos e a sabedoria para distinguir umas das outras.

O que pode surpreendê-lo, mais do que tudo, é que essa terrível aflição familiar do vício pode realmente levar ao crescimento pessoal e ao despertar espiritual, como realmente aconteceu conosco.

11. Eu mantive uma conexão amorosa com minha filha:

Com tudo que disse sobre a manutenção de limites firmes com o viciado (“o amor exigente”), você pode achar estranho que enfatize agora que a coisa mais importante que você pode fazer é criar e manter um forte vínculo de amor com seu filho viciado. Se vocês já tiveram um forte vínculo, confie e lembre-se dele (mesmo que tenha dificuldades em reconhecer a criança que ele foi um dia).

Se o seu filho é biológico, mas ainda assim sofre do que é chamado de desordem afetiva, isto é, a criança não desenvolve uma ligação de amor e confiança com os pais ou o cuidador principal, obtenha aconselhamento de um especialista para ajudá-lo a entender as questões enfrentadas pelo seu filho. Faça a autoavaliação de sua própria dificuldade em estabelecer uma ligação emocional, porque você é metade do que é necessário manter o vínculo amoroso.

Lembre-se de que nunca é tarde demais para estabelecer o vínculo com seu filho. Pam não tinha um laço afetivo comigo ou qualquer outra pessoa quando começou sua espiral descendente com as drogas. Por meio dos meus esforços para chegar a ela (incluindo diversas missões de resgate que falharam), Pamela finalmente veio a confiar no meu amor por ela. Ela testou meu amor mais e mais, até que finalmente acreditou que nunca iria abandoná-la ou rejeitá-la, que sempre iria manter a luz da esperança na sua recuperação viva em meu coração. Ela soube, finalmente, nas profundezas do seu ser, que eu a amava incondicionalmente.

O amor incondicional não nos torna fracos. Na realidade, o vínculo afetivo que tive com Pam (a parte do amor incondicional) JUNTO com a confrontação do seu comportamento relacionado ao vício (a parte do amor exigente) é que foi a combinação potente que me permitiu ser uma presença positiva de cura na vida da minha filha. Um amor piegas que permitisse que ela abusasse de mim teria matado a nossa relação e apenas acrescentaria mais culpa destrutiva em cima da carga da dependência que ela já trazia. Por outro lado, um amor severo também teria destruído qualquer esperança que ela carregasse.

É muito difícil estabelecer os limites entre o que é permissividade e o que é tolerância, ou, por outro lado, o que é desapego saudável e o que é abandono. Você provavelmente vai cometer erros tentando encontrar o equilíbrio, como eu cometi. Dei a Pam um lugar para viver, quando ela estava apenas querendo descanso e, não, recuperação. Por outro lado, cortei o contato com ela porque acreditei no especialista que dissera que essa era a maneira de tratar um viciado, e depois me arrependi, pois percebi que tal comportamento só adicionou sentimentos terríveis de isolamento e desmerecimento em Pam.

Dessa forma, compreendo como é difícil encontrar o equilíbrio correto. No entanto, aprendi a manter uma linha firme em relação ao seu comportamento e, ao mesmo tempo, manter meu coração aberto, mesmo quando ela estava se comportando muito mal. Isso significa, é claro, que o meu coração saiu machucado muitas vezes.

O vício é uma doença de partir o coração. Manter seu coração aberto para seu filho é o maior desafio que terá. Mas, para cultivar o amor incondicional em qualquer relacionamento, você deve estar disposto a deixar seu coração se despedaçar várias vezes. Não tenha medo da dor emocional porque isso não vai matá-lo. A dor pode realmente ser boa para você. Irá ajudá-lo a se tornar humilde e real. Vai fazer você se abrir para receber ajuda, e desafiar ideias fixas sobre sua autoimagem de “boa pessoa”. Amar um viciado vai lhe transformar… para melhor.

Se você percorrer todo esse caminho com seu coração partido, vai descobrir algo mágico: seu coração vai ficar cada vez maior e mais forte.

“Abrir-se para o que quer que esteja presente pode ser uma tarefa que despedaçará o seu coração. Mas deixe o seu coração se partir, pois um coração partido revela a essência do amor sem medidas.” (1)

Se você quiser saber como eu fiz isso, bem… você vai ter que ler o livro, porque é disso que ele trata.

12. Eu estava lá quando ela ficou pronta para o tratamento:

Sempre dei a Pam o benefício da dúvida quando ela dizia que queria ficar limpa e estava pronta para o tratamento. Geralmente, acreditávamos nela e a apoiávamos para que obtivesse qualquer forma de tratamento para o qual estivesse pronta (e estávamos dispostos a pagar) na época. Ela passou por vários programas de tratamento que não “funcionaram”, no sentido de que nunca os concluiu com êxito. No entanto, mesmo curtos períodos de tempo nesses programas a ajudaram a compreender a natureza de sua doença e lhe deram um vislumbre de como realmente era a recuperação. Não me arrependo de ter financiado suas muitas tentativas para ficar limpa; tudo somou para uma prontidão final.

Também realizei muitas pesquisas para Pam sobre possíveis opções. Avaliei que encontrar um programa de recuperação estava muitas vezes além de sua capacidade, e, assim, senti que tratava-se de um tipo de ajuda que poderia oferecer. No final, o único programa de tratamento que “funcionou” para Pam, isto é, aquele que deu a base para a transformar sua vida numa adulta sóbria e limpa foi um programa que começou por administrar Ibogaína (um programa de pesquisa para viciados patrocinado pelo governo), e que honrou o crescimento espiritual que ela tinha feito, como resultado de anos tomando Ayahuasca. Ela ainda recaiu, mesmo depois de um ano neste programa. Mas suas recaídas finais eram curtas e temporárias.

Uma coisa precisa ficar claro: Nada do que você faça ou não faça será garantia de que o viciado terá êxito na recuperação. Não podemos ter o crédito sobre sua recuperação assim como não podemos nos culpar por sua doença. Tudo isso faz parte do grande mistério da vida. Considero a recuperação de Pamela um dos grandes milagres da minha vida. Tais milagres vêm até nós, às vezes, por meio da graça de Deus. Quando fazemos o trabalho de nossa própria recuperação, para que possamos estar presentes para nossos filhos, os milagres se tornam um pouco mais prováveis.

Ofereço este “conselho” com o maior respeito por qualquer maneira pela qual você escolha enfrentar esse desafio em sua vida, com o máximo de carinho pela luta em que se encontra, e com muita fé no coração de pais que compartilhamos.

Deus lhes abençoe,

Susan Thesenga

1.Gangaji, mestra espiritualista contemporânea. Este é um trecho do livro “A Diamond in Your Pocket” (Um Diamante no seu Bolso). O título do meu livro (Love Unbroken) “Amor que não se mede” foi inspirado nesta citação.

 

 

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